Já falei sobre 5 personagens femininas que eu gostei de encontrar no mundo dos games e hoje quero falar um pouquinho sobre minha paixão por sci-fi. Ficção científica (ou sci-fi) é um gênero que normalmente lida com conceitos especulativos e imaginativos, ou seja, coisas relacionados principalmente com o futuro, que envolvem ciência e tecnologia. O meu primeiro contato com o gênero foi na infância e eu nem sabia. Frankenstein é um dos meus livros favoritos e acredito que todos devem conhecê-lo.
Ele foi publicado em 1818 e já teve diversas adaptações. E o melhor de tudo: foi escrito por uma mulher! Mary Shelley foi pioneira no gênero e deu vida a Victor Frankenstein, um jovem estudante de ciências naturais que descobre a fórmula da criação de um ser consciente. É claro que na época (por conta da idade) não me interessei pelos seus estudos, mas sim pela relação de ódio entre ele e a criatura.
O fato é que muitas pessoas associam o gênero com futuro, naves espaciais e alienígenas, porém sci-fi é muito mais do que isso. Inclusive, se você trabalha com criatividade, a ficção cientifica pode te ajudar. Como as histórias apresentam realidades alternativas, fica mais fácil refletir sobre nossas escolhas. Pois ela está aí para provar que o mundo pode ser flexível e as possibilidades infindáveis.
Sem falar que esse gênero também é perfeito para nos fazer refletir sobre a sociedade. É a melhor forma de te fazer pensar fora da caixinha. As histórias fazem com que você enxergue as coisas por um outro ângulo, além de nos questionarmos até onde a ciência é capaz de chegar; até onde nós, seres humanos, seríamos capazes de chegarmos. Uma vez que imaginemos determinada situação, o quão possível aquilo pode se tornar realidade. Querem um exemplo: Star Trek, com seus comunicadores, teve seu primeiro episódio exibido em 1966; décadas mais tarde passamos a usar celulares; e hoje, smartphones.
Agora que consegui falar um pouquinho sobre o gênero e o porquê de gostar tanto, quero indicar 5 livros com protagonismo feminino. Foi difícil escolher apenas cinco (perceberam a ironia? infelizmente é um mercado ainda dominado pelos homens) , mas quis priorizar obras mais recentes e comentadas. Lembrando que, além desses títulos, estou recomendando as autoras que os escreveram: Becky Chambers, Rysa Walker, Madeleine L’Engle, Octavia E. Butler e Margaret Atwood
A LONGA VIAGEM A UM PEQUENO PLANETA HOSTIL
Sinopse: O livro de Becky Chambers é um marco recente no universo da ficção científica. Lançado originalmente através de financiamento coletivo pela plataforma Kickstarter, ele conquistou a crítica especializada e os ainda mais exigentes fãs do gênero, sendo indicado para prêmios respeitados, como o Prêmio Arthur C. Clarke e o Prêmio Hugo. Um dos motivos do sucesso de “A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil” é a abordagem da história. Elementos essenciais em qualquer narrativa sci-fi estão muito bem representados, como a precisão científica e suas possíveis implicações políticas. O gatilho principal é a construção de um túnel espacial que permitirá ao pequeno planeta do título participar de uma aliança galáctica.
Esse livro entrou para os meus favoritos da vida. A longa viagem a um pequeno planeta hostil foi uma leitura tão gostosa que senti vontade de reler assim que finalizei. Becky Chambers fez com que eu me interessasse pela vida pessoal de cada personagem e consegui me sentir um membro da tripulação enquanto eu lia.
A autora criou personagens que são como a gente, com problemas reais. A tripulação da nave espacial Andarilha é composta por indivíduos de planetas, espécies e gêneros diferentes. Eu gostei tanto da leitura e do que ela representa. Temos personagens femininas incríveis que fogem de qualquer esteriótipo. É um livro que trabalha a diversidade e achei isso maravilhoso. De fato me senti representada! Ela abordou assuntos polêmicos com tanta naturalidade (o que todos deveriam fazer) que dá gosto de ler. E aqui vemos diversidade de gênero, espécie, sexualidade e até estrutura familiar.
CHRONOS: VIAJANTES DO TEMPO #1
Sinopse: Na vida, tudo tem uma ordem certa para acontecer: os sapatos devem ser colocados depois das meias, a geleia deve ser passada no pão depois da manteiga — netos nascem depois dos avós. Kate Pierce-Keller nunca havia dado atenção a este último item, até sua avó surgir com revelações e um objeto que pode colocar sua existência em risco. Os eventos da premiada Trilogia Chronos se iniciam quando Kate descobre que sua avó é uma historiadora viajante do tempo — nascida alguns séculos à frente, mas presa ao presente por conta de um acidente — e possui um artefato, um medalhão azul reluzente, que permite realizar saltos temporais para qualquer época e local.
Tudo parece um absurdo no início, mas uma leve interferência na linha temporal faz com que os pais de Kate sumam do mapa e ela seja a próxima da lista. Arriscando sua vida, ela aceita a missão de tentar voltar no tempo para evitar um homicídio que é a chave de tudo e colocar as coisas no seu devido lugar. Mas se ela for bem sucedida, a interferência também terá um custo pessoal.
Chronos tem várias personagens femininas. A protagonista é a Kate, mas a sua vó Katherine é tão importante quanto, pois ela assume um papel de mentora. Também há várias personagens coadjuvantes (e até mesmo vilãs). Sempre gostei de histórias com viagem no tempo e ver a forma com que a autora abordou esse assunto na trama foi interessante. No início fiquei um pouco confusa para entender a lógica, mas conforme acontece o desenrolar da história pude ver como cada trecho e momento se encaixavam, como um quebra-cabeça, e assim remontar os acontecimentos.
UMA DOBRA NO TEMPO
Sinopse: Era uma noite escura e tempestuosa; a jovem Meg Murry e seu irmão mais novo, Charles Wallace, descem para fazer um lanche tardio quando recebem a visita de uma figura muito peculiar. “Noites loucas são a minha glória”, diz a estranha misteriosa. “Foi só uma lufada que me pegou de jeito e me tirou da rota. Descansarei um pouco e seguirei meu rumo. Por falar em rumos, meu doce, saiba que o tesserato existe sim.”
O que seria um tesserato? O pai de Meg bem andava experimentando com a quinta dimensão quando desapareceu misteriosamente… Agora, com a ajuda de três criaturas muito peculiares, chegou o momento de Meg, seu amigo Calvin e Charles Wallace partirem em uma jornada para resgatá-lo. Uma jornada perigosa pelo tempo e o espaço.
Madeleine L’Engle me cativou com a sua história. O sr. Murry era um físico famoso e, desde que partiu para uma missão confidencial do governo, não tiveram mais notícias dele. O destaque nessa trama é a cumplicidade da família. Meg é a nossa protagonista, ela é uma garota comum (se comparada aos irmãos). Ela não se dá muito bem na escola. Também é impulsiva, nervosa, teimosa. Mas é corajosa! Me apaixonei pela pequena Meg.
KINDRED – LAÇOS DE SANGUE
Sinopse: Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça. Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio.
Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida… até acontecer de novo. E de novo. Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.
Preciso comprar essa edição física, pois a li na digital e pensei que não iria gostar. Não sei dizer por quem me apaixonei mais: a autora ou sua personagem. Como eu disse no início da publicação, esse gênero é importante para nos fazer refletir e Kindred te dá um soco no estômago. Ela conseguiu mexer com os meus sentimentos e abrir meus olhos para algo que foi REAL e considerado normal.
O CONTO DE AIA
Sinopse: Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países.
Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, o a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.
O meu primeiro contato com a autora foi ano passado, através da série Alias Grace. Sei que esse romance entra na categoria distopia, mas O conto de Aia (que também tem uma série adaptada) nos faz refletir sobre liberdade, poder, direitos civis e a fragilidade do mundo que conhecemos (e vivemos). Ou seja, de certa forma podemos partir da distopia para o sci-fi. O que quero dizer é que se pensarmos nos mais recentes acontecimentos que envolvem o gênero feminino e suas lutas, devemos também vislumbrar e compreender que futuro estamos criando hoje no presente. As mulheres do início do século mal poderiam imaginar as conquistas de hoje, assim como para o nosso futuro esperamos ter alterado o rumo da nossa civilização para melhor, para uma sociedade mais justa e igualitária não só para as mulheres como para todos os demais grupos e seres humanos que aqui vivem.
Já leu algum desses livros? Tem algum para me indicar?
Beijos
Ana
Olá Clayce, como você está? Ainda não li nenhum livro citado, já tinha ouvido falar de Chronos e O conto de Aia, seu post me deixou ainda mais curiosa para ler esses livros e os demais da lista. Tomara que mais autoras e personagens femininas consigam ganhar espaço nesse gênero, afinal já está mais do que na hora, não é mesmo?
Clayci
Oi Ana, estou bem e vc?
Ahhh espero que consiga ler quando tiver oportunidade.
É tão bom ver mulheres ganhando espaço nesse gênero =D
Beijos