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O Livro do Juízo Final – Connie Willis (Voltando para a Idade Média)

O Livro do Juízo Final é uma ficção científica da autora Connie Willis que foi escrito em 1992 e foi publicado aqui no Brasil pela editora Suma de Letras em 2017. Essa obra conquistou os prêmios Hugo, Nebula e Locus; é uma leitura interessante para quem curte enredos com viagens no tempo e ficção histórica.

Não sei se foi uma escolha muito sábia optar por um livro que fala sobre epidemia no momento em que estamos vivendo. Porém, devo admitir, que as circunstâncias me ajudaram a refletir sobre o impacto causado por um vírus. E por mais estranho que possa parecer, me senti confortável com a escrita da autora, ela conseguiu me convencer com a sua ficção

O livro do juízo final despertou várias sensações enquanto eu o lia. Em alguns momentos consegui rir com algumas situações e em outros só pensava em chorar com as possibilidades. Quando a minha amiga, Ada, recomendou esta leitura, fiquei com receio por causa do tamanho (afinal são quase 600 páginas); no entanto a escrita da autora é tão envolvente que eu nem senti o tempo passar e as páginas correrem.

Vamos voltar para a Idade Média?

O sujeito não tem noção de como a rede funciona, não tem noção de que existem paradoxos, não tem noção de que Kivrin está ali e de que o que acontece com ela é real e irrevogável.

O Livro do Juízo Final- Connie Willis

De acordo com a história de Willis, em 2054 a viagem no tempo será um processo comum. Historiadores usarão essa tecnologia para presenciar os fatos históricos. Imagina ter a oportunidade de testemunhar algum evento memorável? Contudo, por mais que exista essa possibilidade, em O livro do Juízo Final é preciso se preparar antes de fazer o salto. Você necessita estudar sobre o período que vai visitar e os riscos que a sua presença poderá causar na História. E isso só é possível porque a ciência já erradicou praticamente todas as doenças.

É por causa deste aperfeiçoamento que a estudante Krivin Eagle decide viajar até a Idade Média para fazer uma pesquisa de campo. Mesmo com o seu orientador explicando todos os riscos que uma mulher sozinha podia sofrer nesse tempo, Krivin se dedicou e pesquisou tudo o que podia sobre a época para qual fará o salto. Ela quer desvendar as crenças e o mistérios desse século e incluir registros – que até então são inexistentes – para a universidade.

Ela está a setecentos anos de casa, pensou Dunworthy, num século que desdenhava das mulheres a ponto de nem anotar seus nomes quando morriam.

O livro do Juízo Final – Connie Willis

Mas afinal, o que pode dar errado?

Finalmente, depois de muitos estudos, o grande dia chegou. O Sr. Dunworthy (seu orientador), fará de tudo para impedi-la e quando percebe que isso não será possível, ele tenta pelo menos garantir que a jovem volte em segurança. E é claro que algo acontece e o salto não ocorre como planejado. Todavia, Krivin é uma jovem corajosa e está focada em seu trabalho, por isso registra toda a sua experiência quando consegue.

O Livro do Juízo Final - Connie Willis (Voltando para a Idade Média)

Não vou entregar o mistério da trama, contudo o que posso adiantar é que a jovem será “adotada” por uma família e passará por todas as dificuldades que esse período histórico vivenciou. E se você acha que 2054 está seguro, devo adiantar um proeminente não. Após sua partida, uma epidemia de doenças surge e muitos são afetados.

“O som era amedrontador, mas o silêncio é pior. É como o fim do mundo.”

Gosto de histórias que exploram a possibilidade de viajar no tempo. Não é à toa que Doctor Who é uma das minhas séries favoritas e seria maravilhoso poder viajar na Tardis. Todavia, em O livro do Juízo Final a viagem no tempo é possível através de um sistema computadorizado chamado rede.

No início, quando Kivrin realizou o salto, achei exagerada a preocupação do Sr. Dunworthy. Ficou parecendo que ele estava procurando falhas no trabalho realizado e queria culpar alguém caso algo desse errado. Entretanto, quando o novo vírus surge, comecei a me preocupar com a segurança da estudante caso adoecesse na Idade Média (e o que isso acarretaria na História).

Fiquei completamente envolvida com a leitura e me apeguei a todos os personagens. O Livro do Juízo Final fez com que eu refletisse sobre as minhas próprias crenças. É uma trama sombria, triste, porém tem alguns momentos que arrancam aquele sorrisinho do rosto. Por mais que seja uma ficção, foi uma verdadeira aula de História; e é impossível não imaginar o sofrimento das pessoas que viveram esse período tão marcante.

 Às vezes a gente faz tudo por uma pessoa, mas isso não basta para salvar a vida dela.

O Livro do Juízo Final – Connie Willis

Você conseguiria presenciar um momento histórico sem fazer nada para impedi-lo?

Enquanto lia, só conseguia pensar na frase de Carl Jung: Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humanaseja apenas outra alma humana. Quando Kivrin saltou para a Idade Média, sua intenção era registrar os acontecimentos para a sua pesquisa de campo. No entanto, a estudante deixou a sua exploração de lado e começou a se envolver com os problemas das pessoas que conviviam com ela.

Deu pra sentir a tristeza da protagonista, assim como o sentimento de impotência ao ver as coisas acontecerem e não poder interferir no curso da História. E por mais que ela quisesse ajudar alguém, como poderia? Mesmo desfrutando de todos os conhecimentos, não era possível aplicá-los na Idade Média. Quando comecei a leitura, pensei que essa personagem fosse ingênua e inexperiente para ser enviada pra este século. Todavia, ao vê-la reagindo aos acontecimentos, ficou claro o quanto é corajosa, determinada e vulnerável. Kivrin seguiu o que acreditava e não deixou que ninguém interferisse na sua decisão; e mesmo quando reconheceu seu erro, não desistiu e continuou firme e forte.

Não aprendemos com os erros do passado.

O que me deixou intrigada a ponto de relacionar o que estamos vivendo com a ficção, foram os diálogos de 2054. Quando a cidade precisou entrar em quarentena, surgiram as mesmas dificuldades que estamos enfrentando hoje. Por um momento, me esqueci que este livro foi escrito em 1992 por causa da crise que os personagens estavam vivendo. Teve aqueles que procuravam culpados, enquanto o vírus circulava; os que desrespeitavam a quarentena e sem falar nos que culpavam a medicina. Alguns egoístas que só pensavam nos seus compromissos e não enxergavam a realidade de quem os cercavam. Outros que desobedeciam a restrição médica para trabalhar e até mesmo uns que estocavam papel higiênico e comida. Agora me diz, parece mesmo que essa obra foi escrita em 1992 ou 2020? Não aprendemos nada com a História!

O Livro do Juízo Final - Connie Willis (Voltando para a Idade Média)

Um pouco mais sobre a Peste Negra

Peste Negra, também conhecida como Peste BubônicaGrande PestePeste ou Praga, foi a pandemia mais devastadora registada na história humana, tendo resultado na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia, atingindo o pico na Europa entre os anos de 1347 e 1351.

Fiz essa máscara que aparece na foto usando courino. No século 17, com novos surtos da doença, surgiram médicos com um vestido que os cobria da cabeça aos pés e uma máscara com um bico de pássaro. A razão por trás desse traje é o desconhecimento científico acerca das causas da doença. A lógica da máscara era para evitar que o miasma chegasse ao nariz dos médicos.

Se você ainda não leu O livro do Juízo Final, vale a pena dar uma chance. É um livro que merece ser lido.

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comentários

  • Luly Lage

    O ser humano tem a imensa capacidade de ser imbecil em qualquer década de qualquer século e esse livro pode provar, né? Quando nossa realidade é exatamente a mesma da que prevê ficções científicas pessimistas é porque a vida imita a arte, às vezes da pior forma possível.
    Enfim, amarguras à parte, fiquei fissurada nesse plot de viagem no tempo para fins científicos num nível que, enquanto lia sua resenha, fiquei me imaginando voltando pra virada dos séculos XIX e XX pra poder fazer a minha. Haja coragem, mas vontade também não falta…

    responder
  • Luana Souza

    Antes de mais nada, essa sua máscara ficou incrível. Muito creepy, mas incrível, e lhe rendeu ótimas fotos!
    Sobre o tema do livro, estava até conversando com alguns amigos da faculdade sobre o quanto esse tipo de conteúdo sobre fim do mundo, distopia e pandemia se tornou algo hypado tendo em vista o cenário atual. É algo quase sádico, sabe? A gente se alimenta dessas histórias, como se para nos torturar com tudo que está acontecendo na ficção e na realidade.
    No mais, amei a resenha, as fotos e a proposta do livro. Fiquei bem curiosa, na verdade hehe.

    responder
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