Resenhas Literárias


O Homem de Giz – C.J. Tudor

“Nunca Suponha. Questione tudo. Sempre enxergue além do óbvio”. O Homem de Giz é um suspense psicológico com assassinatos e mistérios da autora C. J. Tudor. Ele foi publicado pela editora Intrínseca.

SOBRE A HISTÓRIA

A história se inicia em 1986 na pequena cidade de Anderburry. Vamos conhecer Eddie e seus amigos Gav Gordo, Mickey Metal, Hoppo e Nick. Apesar de se tratar de uma cidade calma, eles sempre exploravam a região em busca de aventuras. Para que pudessem conversar entre eles, decidiram criar um código secreto: pequenos homens (palitos) de giz rabiscados no asfalto. Eles identificavam os códigos através das cores, cada um tinha a sua. Era algo inocente, até que certo dia, esses desenhos os levaram até o bosque, onde encontraram um corpo mutilado.

Achamos que queremos respostas, mas o que de fato queremos são as respostas certas. É a natureza humana. Fazemos perguntas esperando que nos digam a verdade que queremos ouvir. O problema é que não podemos escolher nossas verdades. A verdade tem o hábito de simplesmente ser a verdade. A única escolha que temos é a de acreditar ou não nela. (pág. 157)

Ninguém sabia quem era o autor das mensagens. E é claro que a polícia não levou em consideração esses rabiscos, porém as crianças sabiam que algo estava acontecendo. Trinta anos depois, Eddie tenta seguir em frente e esquecer o passado. Entretanto ele retorna, quando ele e seus amigos recebem uma carta com um homem de giz enforcado. Será que alguém mais sabe o que aconteceu naquele dia?

O Homem de Giz - C.J. Tudor

Em 2016, Eddie está com 42 anos e se tornou um professor. Ele ainda mora na mesma casa em que cresceu, mas agora divide o espaço com Chloe uma inquilina com metade da sua idade. Mickey havia se mudado, mas agora está de volta a cidade querendo a sua ajuda. Ele quer escrever um livro sobre os acontecimentos do passado e alega saber quem foi o assassino. Antes mesmo de tomar uma decisão, Eddie recebe a notícia que Mickey foi morto e junto dele encontraram mais um boneco de giz.

A maioria das pessoas faz coisas ruins em algum momento da vida, coisas que gostariam de reverter, coisas das quais se lamentam. Todo mundo erra. Todo mundo tem o bem e o mal dentro de si. Só porque alguém faz algo terrível isso deve ofuscar todas as coisas boas que fez anteriormente? Ou há coisas tão ruins que nenhum ato de bondade pode redimir? (pág. 138)

MINHA OPINIÃO

O Homem de Giz prendeu a minha atenção logo na primeira página. Não só pelo mistério do assassinato, mas também por outras questões que foram abordadas pela autora. A história alterna os capítulos em dois períodos do tempo: 1986 quando eles ainda eram crianças e presenciaram a cena do crime; 2016 onde cada um seguiu com a sua vida sem a resolução deste caso.

Eddie tinha um bom relacionamento com os seus pais, no entanto, a sua família enfrentava uma pequena guerra com a cidade na época. Sua mãe trabalhava em uma clínica de aborto e por isso recebia ameaças constantes, além de enfrentar grupo de manifestantes religiosos na porta do seu trabalho com frequência. Por outro lado, temos o pai da Nick (melhor amiga de Eddie) que era pastor e contra as atitudes da mãe de Eddie.

O Homem de Giz - C.J. Tudor

– Esse é o ponto Eddie. Você precisa entender que ser uma pessoa boa não é cantar hinos ou orar para algum deus. Não se trata de ostentar uma cruz ou ir a igreja todo domingo. Ser uma boa pessoa tem a ver com a maneira como você trata os outros. As pessoas boas não precisam de religião, porque sabem em seu íntimo que estão fazendo a coisa certa. (pág. 149)

Não há muito o que dizer sobre a história, porque todo o mistério gira em torno desses bonecos de giz. Se você curte Stranger Things e as obras de Stephen King, vai encontrar muitas semelhanças e referências durante a leitura. Enquanto eu lia O homem de giz me lembrei de Os Goonies e até mesmo It: A coisa. A historia gira em torno de um grupo de crianças que vivem em uma pequena cidade; sofrem e enfrentam um trauma e décadas depois este volta para assombrá-las. Como não lembrar do mestre?

Mas isso não significa que o livro seja ruim ou que a autora não tenha originalidade. Ela soube explorar a mente confusa do personagem Eddie. Como o livro é narrado em primeira pessoa, só temos a sua visão dos fatos. E isso faz com que a gente fique se questionando até onde é fantasia ou não. Os capítulos são curtos e isso faz com a leitura se torne menos cansativa, mas mesmo assim é preciso atenção. Pois nada na trama é desenrolado de maneira óbvia, há muitas reviravoltas e questionamentos sobre a ações dos personagens.

O Homem de Giz - C.J. Tudor

Contudo algumas coisas me incomodaram na leitura e uma delas foi a forma com que a autora descartou alguns personagens. Nick era a única menina do grupo e Eddie tinha sentimentos por ela, mas teve um momento na história em que ela sumiu. Pensei que a autora iria desenvolve-la melhor a ponto de conhecer não só a sua história, como também o seu relacionamento com o pai (que era pastor). Teve cenas em que a Nick aparecia machucada e nunca falava o motivo, porém tudo levava a crer que era o seu pai…

E outra coisa que me incomodou um pouco foi o desfecho. Senti que a autora se perdeu no final e quis criar algo surpreendente, porém não conseguiu.  Não que a leitura tenha sido ruim, gostei da escrita dela e das inúmeras referências (teve até do Doctor Who e fiquei toda alegrinha). Porém esperava um pouquinho mais.

Supomos coisas porque é mais fácil, mais preguiçoso. Isso nos impede de pensar demais. Geralmente sobre coisas que nos deixam desconfortáveis. Mas não pensar pode levar a mal-entendidos e, alguns casos, a tragédias. (pág. 242)

O Homem de Giz - C.J. Tudor

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comentários

  • amanda

    Sim, pelo amor de deus quem desenhou aquilo na igreja???
    E porque a Nicky aparecia com machucados, tipo aquele do ombro, e a autora não explica direito eles estarem lá, acho que deviam ter dado mais destaque a essa personagem. E sobre o giz , seria mais interessante ser o senhor Sr. Halloran que desenhasse eles, já que da a caixa de giz para o Gav e diz a brincadeira ao Ed, seria um desfeche mais interessante.

    responder
    • Fernanda

      Quem desenhou os bonecos na igreja pelo meu ponto de vista foi a Nicky, pois ela disse q o pai iria ficar furioso já que amava a igreja mais do que qualquer coisa, e os machucados são causados pelo pai que a agredia sempre. A Nicky era torturada pelo pai, isso explica o porque ela sentia tanto ódio do mesmo

      responder
  • Milena

    Gostei bastante do livro, só queria entender pq o Eddie levou a cabeça da Elisa?? E por Ed começar a ter o problema de memoria, aquilo talvez poderia ter levado ele a fazer algo terrivel tbm nn??? Isso deixou meio em aberto se talvez ele não tenha feito algo, e não se lembre. mas eu ainda só quero saber PQ Q ELE TA COM A CABEÇA DA ELISA?????????

    responder
  • Erich Kaelvin Santana Souza

    Não conseguir entender quem era o maluco por trás dos desenhos!! Principalmente na igreja, teria o próprio reverendo os feito? Notei que houve pressa em finalizar o livro.

    responder
    • Fernanda

      Quem os desenhava era sim o reverendo, já que ele saía a noite para cometer os homicídios, mas aquela parte que o Ed acha o corpo explica que quem os desenhou foi o próprio Eddie para chamar os amigos e fingir que ele não tinha achado o corpo antes e não levar a culpa pelo assassinato

      responder
  • Miranda

    Realmente o livro te prende desde a primeira página,e tem reviravoltas supreendentes,e alguns segredos interessantes a cerca dos personagens. Porém fica muitas perguntas…Pq Hoppo matou o Mickey?? Quem agrediu o reverendo? Pq Eddie guardou a cabeça da Elisa??
    Fora q a autora realmente esqueceu de explorar os demais personagens…concentrando toda sua escrita em Eddie.
    Daria uma nota 6 para o livro,de certa forma,senti-me frustada com o final do mesmo…

    responder
    • Clayci

      Concordo. Gostei da forma que a autora desenvolveu os personagens, mas parece que fez o final as pressas deixando várias questões em aberto. ????

      responder
    • Beatriz de Paula

      ****SPOILERS****
      ****SPOILERS****
      ****SPOILERS****

      Quem agrediu o Rev. foi o pai da Hannah, o policial. Isso é explicado sim no livro.
      Eddie guardou a cabeça porque ele é um “””colecionador””” e gosta de pegar coisas, mesmo sabendo que é errado. Acredito que ele também não é muito “são” por isso.
      Quanto ao Hoppo e Mickey, ambos não se davam bem desde criança (vide episódio em que Mickey gritou que matou o cachorro do Hoppo, mesmo não sendo verdade), e segundo a teoria do próprio Eddie, foi Hoppo quem batizou a bebida de Mickey na festa em que ele bateu o carro, mas o tiro saiu pela culatra já que Gav foi quem se machucou. Mickey volta anos depois dizendo que vai escrever o livro e provavelmente descobre quem batizou a bebida. Hoppo e Mickey se encontram e Mickey acaba caindo no rio. Mas não da pra saber exatamente o que aconteceu e acho que isso foi proposital da autora , já que Hoppo mesmo diz que “as vezes é melhor são saber todas as respostas”.

      responder
    • que eu me lembre, o Hoppo matou o Mickey porque ele descobriu que o Hoppo que batizou a bebida dele e fez o Gav ficar sem andar, aí ele ameaçou contar pro Gav

      Que eu me lembre, o Hoppo matou o Mickey porque ele descobriu que o Hoppo que batizou a bebida dele e fez o Gav ficar sem andar, aí ele ameaçou contar pro Gav

      responder
  • Juliana Xavier de Castro

    Não li e acho que não leria… Não ia entender a ligação com nada que você citou, já que não conheço Doctor Who, nem Stephen King, nem Stranger Things… Isso já tiraria um pouco da graça do livro. Mas o pior mesmo pra mim seria o desfecho, que tentou surpreender e não conseguiu.

    responder
    • Clayci

      Ahh Ju que pena que não te agradou, mas eu super te entendo <3

      responder
      • José Fernando

        A única coisa que eu não consegui compreender direito, foi o que aconteceu com a Chloe. Alguém poderia me explicar?

        responder
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