Leituras


Algumas histórias não confortam, elas despertam
algumas me tiraram o sono

Não foram leituras leves.
Nem reconfortantes.
Na verdade, algumas me tiraram o sono.

Eu lembro exatamente de onde estava quando terminei Kindred. Da sensação de impotência que ficou, do aperto no peito, do silêncio no fim. Não era só um livro sobre viagens no tempo, era sobre ancestralidade, violência, identidade e resistência. Foi quando percebi que certas histórias que inspiram não vêm para aquecer e sim para incomodar. E às vezes é disso que a gente mais precisa.

Não sabia que as pessoas podiam ser condicionadas com tanta facilidade a aceitarem a escravidão

Sadie – um thriller que perturba até a última páginaTem livros que chegam feito espelho. Outros, como facas. E eu não falo isso no sentido negativo, pelo contrário. Há obras que nos atravessam com tanta força que fazem o mundo parecer diferente depois. Sadie foi uma dessas leituras. Uma protagonista desaparecida, uma narrativa em formato de podcast, e uma verdade dura sobre as garotas que somem e ninguém procura o suficiente. Foi impossível não me imaginar ali, não pensar nas tantas histórias reais por trás da ficção

As pessoas não mudam. Elas apenas escondem melhor quem são de verdade.

Quando li Maresi, esperava fantasia. Encontrei irmandade, dor, coragem. Mulheres que cuidam umas das outras, mas também enfrentam violências que nos são muito familiares. Não existe magia mais potente do que a sobrevivência compartilhada entre mulheres. E ali, mais uma vez, percebi que histórias que inspiram não precisam ser delicadas. Elas precisam ser verdadeiras.

Maresi - Maria Turtschaninoff

Por que falam de poder e não conhecimento? – Porque conhecimento é poder.

Filhos de Sangue e Osso me jogou num universo que parecia distante, mas que na verdade gritava tudo que ainda precisamos reparar por aqui. Cultura, espiritualidade, racismo, poder. Não dava pra sair ilesa depois daquelas páginas.

Eles construíram esse mundo para você, construíram para amá-lo. Eles nunca o amaldiçoaram nas ruas, nunca quebraram as portas da sua casa. Eles não arrastaram sua mãe pelo pescoço e a enforcaram para o mundo assistir.

Bem-vindos ao Paraíso, da Nicole Dennis-Benn, foi um soco. Eu quase fechei o livro no meio. Dói ver tanto. Dói reconhecer tantas. Mas segui. Porque também é necessário continuar mesmo quando o coração aperta. O livro fala sobre turismo, exploração, maternidade, relações entre mulheres, corpos que servem e que cansam de servir. Foi um lembrete de que o paraíso, muitas vezes, existe só para quem está de passagem.

É óbvio que ela tem sonhos. Ela sempre teve sonhos. O sonho dela é cair fora dali e ir para o lugar mais longe possível. Talvez os Estados Unidos, a Inglaterra ou algum outro lugar onde possa se reinventar. Se tornar uma nova pessoa, sem limites; um lugar em que possa se entregar aos desejos que recusa a tanto tempo

Essas são as histórias que inspiram o tipo de mudança silenciosa que vem depois da dor. Não são livros para acalmar. São livros que acordam. Que mexem no que a gente evita olhar de perto. E foi por causa deles que minha forma de enxergar o mundo, e a mim mesma dentro dele, mudou.

A gente fala muito sobre conforto na leitura. E sim, ele é necessário. Mas também é necessário o desconforto que ensina. A fricção que transforma. A palavra escrita com raiva e ternura ao mesmo tempo. Essas são as histórias que inspiramquando tudo parece acomodado demais.

E se você também já se viu diferente depois de uma leitura, saiba que esse tipo de impacto é raro. E valioso. Porque tem livros que não terminam quando a gente vira a última página. Eles continuam vivos, ali, mudando silenciosamente a nossa forma de sentir.

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