Bem-vindos ao Paraíso é da autora jamaicana Nicole Dennis -Benn e foi publicado pela editora Morro Branco. O livro aborda questões como prostituição, lesbofobia, racismo, estupro, opressão e misoginia.
BEM-VINDOS AO PARAÍSO
Deus num gosta di feia
Margot trabalha em um hotel mal administrado, mas apesar de saber que o local não está indo pra frente, ela espera a oportunidade para crescer e ser reconhecida pelo seu esforço. Não é segredo, para nós leitores, que Margot se prostitui para os hóspedes do hotel e considera isso como hora extra. Seu sonho é ver sua irmã mais nova, Thandi, se destacando e salvado a sua família das condições precárias em que vivem, por isso investe todo o dinheiro em sua educação.
Logo nas primeiras páginas, Margot, expõe o que os homens brancos e americanos querem ao procurá-la: seu corpo. Eles querem explorar o corpo negro e conhecer mais do exotismo jamaicano. Você pode se sentir incomodado ao ler a situação, mas a personagem não se incomoda porque o dinheiro é importante e ela acredita que quando Thandi entrar em uma universidade as coisas irão melhorar.
Além das duas irmãs, iremos conhecer Delores a mãe delas. Ela é uma pessoa abusiva, que não participa da vida das filhas e que não sabe lidar com os sentimentos delas. Entretanto, no decorrer da história vamos conhecendo melhor sobre o seu passado e entendemos o porquê dessa personalidade tão severa. Ela acabou descontando em Margot tudo aquilo que sofreu e repete o mesmo erro com Thandi.
[penci_related_posts taxonomies=”undefined” title=”Não deixe de ler:” background=”” border=”” thumbright=”yes” number=”4″ style=”list” align=”none” displayby=”cat” orderby=”random”]Além da prostituição, Margot esconde outros segredos. Ela é apaixonada por uma mulher chamada Verdene que conheceu na infância. Verdene sofre todo tipo de preconceito por ser lésbica e é chamada de bruxa, demônio e tudo aquilo que a ignorância é capaz de causar. É claro que os sentimentos de Margot são correspondidos, contudo, ela não quer que a jovem sofra o mesmo ódio e então vivem um relacionamento escondido.
Thandi também tem seus segredos e traumas. Ela se esforça para corresponder às expectativas da irmã. Mesmo não sabendo de onde surge o dinheiro para a sua educação e não fazendo ideia do passado de Margot. Ela se sente cobrada por tentar ser uma pessoa que não é. Apesar do seu talento é uma adolescente infeliz e vive aplicando produtos químicos no corpo para tentar clarear a pele.
MINHA OPINIÃO
Pode até parecer que eu resumi toda a história, mas pode acreditar que há muito mais para explorar em Bem-vindos ao Paraíso. Foi uma leitura difícil e ao mesmo tempo instigante. A autora conseguiu se destacar não só no enredo, mas também na linguagem única. Ela usou diálogos em patoá entre seus personagens e isso fez toda a diferença na leitura.
E quando digo que senti dificuldade na leitura, foi por conta dos temas abordados na trama. Houve momentos que eu tive que pausar porque achei a descrição forte a ponto de mexer com o meu psicológico. E mesmo sendo estranho dizer isso, foi bom sentir esse incômodo. Há várias críticas feitas pela a autora, mas a principal é sobre a exploração turística da região de Montego Bay. As condições apresentadas são precárias, as pessoas sobrevivem como podem e dependem de abastecimento e fornecimento de energia irregulares.
Outra coisa interessante e que faz sentido pra época em que estamos vivendo, é a discussão sobre opressão. Na história, conseguimos entender que os oprimidos se tornam opressores com facilidade, pois acreditam ser a única forma de se sentirem no controle da situação. Por mais que eu não tenha aceitado os motivos de Delores para agir da forma que age, sofri com a sua história. E no início eu achava que Thandi era ingênua por conta das suas atitudes, mas no final do livro me dei conta de que sua irmã era muito mais.
Eu poderia passar o dia falando sobre o livro, mas quero que você leia. É uma leitura importante e que eu tenho certeza que vai mudar um pouco a sua forma de pensar. Confesso que a primeira parte foi um pouco cansativa, pois me senti jogada na história sem muitas explicações. No entanto, quando as coisas começaram a fazer sentido e as memórias surgiram, não senti vontade de largar o livro. Só achei que o final foi um pouco acelerado, gostei da objetividade, mas terminou em aberto e isso me incomodou um pouco. Mesmo assim foi uma das melhores leituras que fiz esse ano!
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Vitória Bruscato
Vi esse livro em um dos seus posts de Week Click, e a capa/título me chamaram atenção, por isso vim parar nessa resenha. Eu adorei todos os temas abordados e a história parece ser incrível. Esse livro com certeza vai entrar para a minha wishlist
Clayci
Ahh como fico feliz em saber que se interessou <3
Foi uma leitura bem angustiante, mas maravilhosa