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A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões – Louise O’Neill

A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões - Louise O'Neill
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Eu sempre tive uma relação de amor e ódio com a Ariel. Quando assisti “A pequena Sereia” pela primeira vez, me encantei com a personagem e decorei todas as músicas desse clássico. E apesar de carregar todas aquelas cenas no coração, a magia chegou ao fim quando cresci e dei uma chance para a obra original.

A grande diferença entre o Conto e a versão da Disney está no objetivo da personagem. Na aminação, Ariel quer conhecer o mundo humano e o que a incentiva é o seu sentimento pelo príncipe. Já no conto, nossa sereia sofre e se humilha para ser o destaque do reino celeste – mesmo que também tenha amor envolvido. Mas independentemente do objetivo, a história é sobre desejos. Mesmo com todas as consequências, o quão longe você iria para alcançar o que deseja?

Em A Pequena Sereia e o reino das ilusões, Gaia não medirá esforços para conquistar o que quer. E apesar dessa releitura lembrar bastante o conto original, temos uma mensagem muito importante e necessária.

A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões - Louise O'Neill

SOBRE A HISTÓRIA

Neste reino as sereias só tem uma função: obedecer. Elas devem sorrir com frequência, falar só o necessário e ter uma aparência impecável. As sereias não recebem educação e crescem aprendendo que precisam seguir as normas, além de viver em um padrão de beleza para serem exploradas para o prazer masculino.

[penci_blockquote style=”style-2″ align=”none” author=”A Pequena Sereia e o reino das ilusões (pág. 92)”]Por que eu ficaria ofendida? Ser chamada de gorda não é um insulto, pequena sereia. É tão sem sentido quanto ser chamada de magra. São meras descrições. Foi seu pai quem considerou esta uma palavra negativa e um jeito negativo de ser.[/penci_blockquote]

Gaia cresceu sem a sua mãe, inclusive este é um assunto proibido no mar. Suas irmãs a culpam pelo desaparecimento dela e dizem que foram abandonadas – já que ela escolheu viver na terra ao se apaixonar por um humano. Sem respostas, Gaia cresceu sentindo falta de sua presença e se perguntando o que realmente aconteceu com ela.

A jovem acredita que conseguirá essas respostas em breve, pois seu aniversário de 15 anos chegou e finalmente poderá subir à superfície para espiar o mundo humano. Mesmo sendo a sereia mais linda e desejada, Gaia não quer cumprir o destino escolhido por seu pai; sua mão está prometida para Zale – ele tem mais de 60 anos e é uma pessoa poderosa no reino – e eles irão se casar quando ela completar os seus 16 anos.

Quando Gaia subiu para superfície pela primeira vez, se apaixonou por um humano chamado Oliver. Ele não sabe da sua existência, no entanto, a sereia o salvou de uma tempestade e das Rusalka. Gaia tentou esquecê-lo, mas um ano depois desse acontecimento, a sereia decide procurar a Bruxa do mar para pedir ajuda. Em troca de sua bela voz, a bruxa oferece pernas humanas e a chance de estar com esse jovem para sempre.

MINHA OPINIÃO

Apesar de ser um livro relativamente curto (200 páginas) muitas coisas aconteceram e nem sei por onde começar. Não sei se é porque estou envelhecendo, mas nos últimos tempos comecei a refletir sobre as condições problemáticas dos livros e filmes que fizeram parte da minha infância. Achei importante comentar isto aqui, pois a minha intenção não é problematizar aquilo que foi importante pra mim, mas sim identificar problemas que uma criança não é capaz de enxergar.

Essa releitura feminista da Pequena sereia que a Louise O’Neill publicou é necessária para discussão. Eu amo o conto o original (da mesma forma que guardo um grande carinho pela animação da Disney), porém se você refletir sobre a trama, verá que não é o tipo de história que devemos simplesmente aceitar. Por isso foi bom ler uma versão com um ponto de vista feminino e autêntico. Ainda temos à sensibilidade do conto de fadas, contudo ela adicionou a questão do amadurecimento e empoderamento da protagonista.

[penci_blockquote style=”style-2″ align=”none” author=”A Pequena Sereia e o reino das ilusões (pág. 93)”]Tradicional? E o que é tradicional? Seu pai julga que minhas Salka também são “anormais”, e o que elas são senão garotas afogadas? Ele crê ser tudo o que é tradicional e correto, e qualquer um com inclinações diferentes é julgado como pervertido só para ele provar que está certo.[/penci_blockquote]

Gaia e suas irmãs foram ensinadas a competir umas com as outras. Elas vivem se desentendendo e é nítida a inveja entre elas. Consegui sentir o peso do ambiente enquanto eu lia; cada irmã tinha a sua personalidade, entretanto eram infelizes, já que tinham que seguir as regras do Rei dos Mares. E Gaia não é uma personagem “amável”, pelo menos não consegui sentir empatia por ela logo de cara. Teve cenas que eu tive vontade de jogar o livro na parede porque ela dizia coisas absurdas. Mas ela foi criada nesse ambiente opressor e não tinha culpa nenhuma.

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Gaia não podia questionar e devia sempre sorrir.

[penci_blockquote style=”style-2″ align=”left” author=”A pequena Sereia e o Reino das Ilusões (pág. 155)”]As mulheres sempre levam a culpa. Você já notou isso? As esposas são as implicantes. A amante é uma piranha por trair a irmandade. E os homens simplesmente saem pela tangente.[/penci_blockquote]

Foi uma leitura importante, pois o livro é extremamente feminista e notamos isso logo na primeira página. As condições sexistas e infames de nossa sociedade estão presentes na releitura. A autora mostra um mundo em que as mulheres são subordinadas a qualquer homem lá fora. Apesar de Gaia ser a nossa protagonista, podemos notar que todas as mulheres, que aparecem nessa história, sofrem.

Mesmo quando Gaia consegue sair do ambiente em que cresceu, quando conquista a sua tão sonhada liberdade, demora para se habituar e entender que não precisa e nem deve ser uma mulher quieta e obediente. Todos nós crescemos com ideologias que nos são apresentados no ambiente em que vivemos. Mudar esses pensamentos não é algo fácil e nem acontece da noite para o dia. Em A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões, a autora mostra que leva tempo para compreender e se livrar de padrões que nos cercaram a vida toda.

Senti raiva de todos os homens que cruzaram o caminho de Gaia. Eu fiquei com nojo do seu pai, principalmente quando ele soltava comentários e olhares maliciosos para as suas filhas. Só de ler as cenas com Zale, fiquei enjoada. E os amigos de Oliver? Realmente a autora conseguiu me fazer sentir raiva de todos os personagens masculinos dessa história. .

E assim como a Úrsula, tive vontade de conhecer melhor essa versão da Bruxa do Mar; uma personagem tão notável e complexa. Apesar de ter gostado da mensagem principal e achar uma leitura necessária, preciso admitir que ficou parecendo que este era o único objetivo da autora. Não criar uma história, mas sim uma reflexão. Isso é maravilhoso, todavia senti necessidade de saber mais sobre os personagens secundários. Tinha uma discussão política entre Zale e o Rei dos Mares, assim como queria entender melhor a avó de Gaia e até mesmo a mãe de Oliver. Uma continuação, seria maravilhoso!

Recomendo Fortemente! Obrigada Darkside Books, por trazer essa história pra gente.

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comentários

  • Camila

    Olá tudo bem?

    Gostei bastante da sua resenha, ainda mais por ser sobre esse livro maravilhoso. Ainda não tive o prazer de ler, mas ele está na minha lista de desejados a algum tempo só esperando a oportunidade para vim parar na minha estante. Sou apaixonada por contos de fadas e por suas releituras, e saber que essa em especial traz tanta reflexão só me faz querer ainda mais ler.

    responder
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