Tea time


Por que fazer pão virou minha terapia em dias longos
e como estou fazendo disso uma tradição

Sempre que sinto o peso de um dia longo, busco conforto em um hábito que me abraça por completo: fazer pão. É curioso como o simples ato de misturar farinha, água e fermento pode transformar não só os ingredientes, mas também o meu estado de espírito. Para mim, esse ritual tem raízes profundas, ligadas às memórias da infância e aos dias em que minha mãe preparava sua famosa massa de pão.

Lembro-me de observá-la na cozinha, movendo as mãos com delicadeza, como se a massa fosse algo vivo, que merecia todo cuidado do mundo. Ela dizia que era prática de anos, mas eu achava que havia um segredo especial — algo que fazia o pão crescer tanto e tão fofo. Quando o aroma começava a invadir a casa, eu sabia que a mágica estava prestes a acontecer: o pão saindo do forno, quentinho, acompanhado por chá ou café passado na hora.

Agora, tento reproduzir essas lembranças na minha cozinha. É onde o passado e o presente se encontram, enquanto a farinha cobre as mãos e o cheiro da massa crescendo preenche o ar. Mas hoje, não são apenas as memórias que me acompanham. Tem a Cora que observa tudo com olhos atentos e curiosos.

Recentemente, decidi registrar algumas dessas novas memórias. Não só os pães que saem do forno, mas também as expressões da Cora ao descobrir algo novo. Gravei sua reação ao colocar as mãozinhas na massa. Achei que ela ficaria relutante, mas, para minha surpresa, seus olhinhos brilharam. Ela apertava a massa com toda a força que conseguia, como se estivesse descobrindo um segredo.

Aquela cena me lembrou por que comecei a fazer pão nos dias em que preciso de calma. Amassar a massa, esperar ela crescer e moldar os pães exige paciência. E paciência é algo que a maternidade me faz esquecer, mas que tento recuperar nesses pequenos rituais.

Fazer pão virou minha pausa para estar no presente, ouvindo meus pensamentos enquanto espero o forno apitar. É também um ato de carinho, porque cada pão carrega a intenção de aquecer a casa e trazer conforto. Quando vejo a Cora participando, mesmo de maneira singela, sinto que as memórias que minha mãe me deu estão sendo passadas adiante.

Talvez, um dia, ela também se lembre desses momentos: do cheiro de pão recém-assado, do toque da massa e do riso ao redor da mesa.

Por enquanto, fico feliz em criar essas novas memórias com ela. Fazer pão me ensina que nem tudo precisa ser imediato. Algumas coisas crescem com o tempo, como a massa que deixo descansando sob um pano limpo. Assim como nós, enquanto aprendemos e crescemos juntas.

Quando o pão sai do forno e divido uma fatia com ela — ainda que, às vezes, ela prefira explorar o pedaço com seus dedinhos curiosos — sinto que o dia longo já não parece tão pesado assim

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comentários

  • Karina Marques

    Essa é uma bela maneira de refletir sobre a vida e muitos de suas fases complexas e corriqueiras. Foi lindo ler tua experiência e escrita, amo quando sou envolvida pelo texto.
    No ano passado decidi que iria aprender a fazer pão, de vez em quando um sai errado, mas no erro aprendo o que precisa ser aperfeiçoado e fazer pão é paciência e prática mesmo… não tem como fugir!
    Beijo enorme ?? | Quase Aurora

    responder
  • Gabi

    Que linda reflexão! A maneira como você compartilhou seu processo de fazer pão como um ato de carinho, paciência e conexão com as memórias da infância é tocante. Eu também sinto que esses pequenos momentos de pausa e repetição têm algo mágico, como se estivéssemos resgatando pedaços de nós mesmos e dos nossos afetos a cada gesto, o mais bonito é que, através do pão, você não só nutre o corpo, mas também a alma, trazendo aconchego, conexão e paciência para os seus dias. E sim, algumas coisas realmente crescem com o tempo, como a massa – e isso vale para as memórias que vamos criando, que vão se transformando em algo ainda mais rico à medida que vamos vivendo. Com certeza, um dia, ela vai se lembrar desses momentos com tanto carinho quanto você.
    ~Kisses
    https://justmegabs.blogspot.com/

    responder
  • chica

    Adoro mexer com farinha, fazer massas e pão. Fui no Insta pra vere e achei um amor a foto!Q Lindas memórias! beijos, chica

    responder
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