Maternidade


As Pequenas Bagunças que Guardam Memórias
Elas são histórias

Antes de ser mãe, meu canto era meu refúgio. Não que fosse impecavelmente organizado, mas era funcional, do meu jeito. Cada coisa tinha seu lugar, mesmo que o lugar fosse uma pilha de livros no chão ou papéis espalhados pela mesa. Quando descobri que seria mãe, fiz uma promessa quase ingênua: manter tudo no seu devido lugar. Imaginei um lar onde cada detalhe seria pensado para acolher a nova vida que chegaria. Mas a maternidade me ensinou que a perfeição é uma ilusão – e que a verdadeira beleza está no movimento, nas pequenas bagunças que agora fazem parte da nossa história.

Hoje, pela manhã, comecei com uma missão quase terapêutica: organizar a estante de livros da Cora. Adoro fazer isso, criando pequenos rodízios para que cada título tenha seu momento de destaque. Só que, claro, essa organização dura pouco. Bastou virar as costas e lá estavam eles, espalhados pelo chão, como sempre. A Cora tem uma relação mágica com os livros. Ela folheia cada um com um cuidado curioso, monta pilhas que acabam desmoronando e, às vezes, se perde em uma página específica, onde inventa histórias que só ela entende. E eu não me importo. Porque, nesse caos controlado, vejo que ela está criando um mundo só dela.

Bagunças de livros infantis

Na cozinha, uma cena que já virou habitual: a xícara de café que apreciei pela manhã repousa na pia. A correria do dia não me deu tempo de lavá-la, mas, de certa forma, gosto de vê-la ali. Ela me lembra do momento tranquilo que tive antes que o dia realmente começasse. É engraçado como algo tão simples pode guardar tanto significado – um pequeno respiro em meio à rotina.

Bagunças na cozinha

Na cama, um novo tipo de desordem: fotos espalhadas para montar o álbum da Cora. São imagens que contam histórias dela, mas que também carregam pedaços de mim. A foto dela na cabaninha com suas bonecas favoritas, as manhãs em que brincávamos de esconde esconde e acabávamos exaustas, e até aquele sorriso de conquista depois de experimentar um bolo que fizemos juntas. As fotos ainda não estão organizadas, mas, de algum modo, elas já estão exatamente onde deveriam estar – no centro da nossa vida.

Enquanto isso, minha mesa permanece como sempre: uma mistura de post-its, bloquinhos e canecas com café frio. Quando leio, gosto de riscar, marcar, registrar pensamentos que talvez nunca reveja, mas que naquele momento parecem indispensáveis. É meu caos organizado, minha forma de conversar com as histórias que me tocam. Esse espaço é meu, um refúgio dentro do refúgio, e não trocaria por uma mesa perfeitamente arrumada.

A sala, por outro lado, parece sempre contar outra história. Hoje, as almofadas estão empilhadas como se fossem muralhas de um castelo imaginário, o cobertor está amassado no chão e, ao lado, um pequeno vestido esquecido. A Cora largou ali quando trocou por algo mais confortável. Não sei por quê, mas aquele vestido me parou por um instante.

Na cozinha, as cascas de legumes empilhadas num canto são os rastros do almoço que preparei enquanto ela me “ajudava”. Dei a ela pequenas tarefas: misturar farinha, segurar os ingredientes. Ela se concentrou com tanta seriedade que precisei segurar o riso. E, no meio disso, surgiram risadas espontâneas, cascas voando e um sentimento bom que não cabe em palavras. As cascas são mais do que restos; são um retrato de momentos compartilhados.

Essas pequenas bagunças – os livros pelo chão, a xícara na pia, as fotos desordenadas, as cascas de legumes – não são apenas marcas do cotidiano. Elas são histórias. Elas falam de quem somos, do que estamos vivendo, de como estamos crescendo juntas.

Hoje sei que nem toda bagunça precisa ser resolvida. Algumas devem ser vividas, admiradas. Elas fazem dessa casa um lar, onde cada canto guarda memórias de nós duas. E, sinceramente, eu não mudaria nada.

E você? Quais pequenas bagunças que contam as histórias do seu dia a dia?

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comentários

  • Jessica M.

    Olá, Clayci!
    Que post mais gostoso de se ler! Me senti como estivesse sentada assistindo à cena de um filme que traz quentinho no coração <3
    Estava vendo os outros posts, com as fotos da Cora que é uma gracinhaaa, parabéns!
    Eu imagino que a maternidade traga essa sensação de urgência em manter tudo organizado, mas essa fase passa rápido e essas lembranças precisam ficar na memória! Mais importante agora é apreciar os momentos e para todo o resto, dá-se um jeito.
    Beijos :*

    responder
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