Antes de tudo, quero dizer que esse texto é um desabafo, um registro da minha experiência e da minha realidade. Não é um conselho, nem uma tentativa de inspirar alguém a fazer o mesmo. Cada pessoa vive uma história diferente, com desafios e prioridades que só ela pode entender. Especialmente quando falamos sobre maternidade e vida profissional, não existe certo ou errado. Tem mães que encontram equilíbrio e satisfação na carreira, que se sentem bem ao voltar ao trabalho, e tem mães que optam por dar uma pausa para se dedicar aos filhos. Cada escolha é válida, porque cada mãe sabe o que é melhor para si.
E quem diria que eu começaria 2025 desempregada?
Se alguém me dissesse isso no início do ano passado, eu provavelmente daria uma risadinha nervosa, porque, olha… essa ideia parecia tão distante da minha realidade. Mas aqui estou eu, escrevendo esse texto com um café do lado e a Cora brincando ao fundo, com uma leveza que eu nem sabia que podia sentir.
Eu já compartilhei por aqui, em algum momento, sobre a minha insegurança em voltar ao mercado de trabalho depois da licença-maternidade. Cora tinha só cinco meses e, sinceramente, tudo o que eu queria era ficar grudada nela. Mas, ao mesmo tempo, existia aquela voz interna dizendo: “Você precisa retomar sua vida profissional, dar uma chance para essa nova versão de você mesma, agora como mãe.” Então eu voltei.
Mas voltei para uma empresa que eu não reconhecia mais. Quando saí de licença, deixei uma equipe que eu amava, um ambiente que me fazia sentir parte de algo maior. Quando voltei… era tudo diferente. Pessoas novas, rostos desconhecidos e um clima que parecia ter perdido o brilho. Era hostil, sabe? Não tinha mais aquele aconchego que faz você sentir que está no lugar certo.
Ainda assim, havia o famoso “preciso pagar os boletos”. O peso da responsabilidade, não só por mim, mas agora também pela Cora. Eu nunca quis colocá-la na creche – e já deixo claro: não tenho absolutamente nada contra quem coloca, repito que cada mãe vive a sua realidade e faz o melhor com o que tem. Mas, no meu caso, enxergava a possibilidade de evitar isso, então negociei o home office para tentar equilibrar as demandas do trabalho com a rotina dela.
E deu certo… tecnicamente. Nunca tive problemas em cumprir minhas tarefas, e a Cora, desde recém-nascida, segue uma rotina que me ajudou muito. Ela nunca me “atrapalhou”, se é que essa palavra faz sentido quando falamos dos nossos filhos. Eu dava conta. Fazia tudo o que me pediam. Mas, por dentro, algo não encaixava.
Com o tempo, o peso não era mais o acúmulo de tarefas ou prazos apertados. O que pesava mesmo era o vazio de não me reconhecer mais naquele espaço. Sabe aquela sensação de estar presente fisicamente, mas emocionalmente distante? Era eu, todos os dias, logando no computador.
Até que chegaram as tão esperadas férias. Antes, eu adorava fracioná-las, mas dessa vez eu quis (precisei) tirar os 30 dias completos. E foi, sem exagero, o período mais delicioso da minha vida. Não viajei, não fiz nada grandioso. Eu só fiquei com a Cora. E isso foi tudo.
Pela primeira vez, eu não estava dividindo minha atenção entre ela e alguma notificação de e-mail. Eu estava inteira. Ali, 100% presente. E foi nesse espaço de presença que minha perspectiva sobre maternidade mudou. Se antes eu me questionava se deveria sair do trabalho para aproveitar mais essa fase dela, aquelas férias me deram a resposta: eu não só queria, eu precisava parar.
Mas, como nem tudo é poesia, o empurrãozinho final veio de forma inesperada. Voltei das férias achando que poderia aguentar mais um pouco, e… tomei uma rasteira. Não foi um empurrãozinho, foi quase um tombo completo (hahaha). Mas, sabe de uma coisa? Eu nunca me senti tão leve.
Sim, existe um sentimento de culpa. Não vou romantizar. Tenho uma bebê e sou responsável pelas escolhas que impactam a vidinha dela. Mas, ao mesmo tempo, eu finalmente consigo dormir sem aquele nó no estômago, sem o pensamento de “droga, amanhã tenho que estar lá de novo”, ter que logar e lidar com pessoas que faziam questão de deixar claro que não gostavam de mim.
Hoje, desempregada, me sinto mais em paz do que em todos os dias em que eu estava “empregada e estável”. E acho que o maior desafio de tudo isso foi saber a hora de parar. Não por falta de capacidade, mas por amor próprio. Por entender que estar exausta emocionalmente nunca deveria ser o preço a pagar por estabilidade.
E quer saber? Eu ainda não sei quando – ou se – vou voltar ao mercado de trabalho. Não estou com pressa. Não estou fechando nenhuma porta, só deixando algumas entreabertas enquanto respiro. Não quero romantizar o desemprego porque sei o quanto está difícil conseguir uma vaga. Mas também sei que, para me dedicar de verdade a qualquer área, eu preciso estar inteira. E, agora, eu não estou.
As coisas não terão o mesmo conforto de antes, eu sei. Vou precisar me reinventar. E tudo bem. Talvez seja isso que a vida esteja me pedindo agora: uma pausa para reencontrar o que faz sentido, no meu tempo, do meu jeito.