Addie LaRue, ou melhor, Adeline, é uma jovem francesa que viveu no início do século XVIII. Desde cedo, ela se mostrou diferente das outras meninas de sua época. Em um tempo em que as mulheres não tinham muitas escolhas além de casar, ter filhos e seguir os passos que a sociedade esperava delas, Addie ansiava por algo mais. Ela queria ser livre, viver sua própria vida, fazer suas próprias escolhas – um desejo que, em 1714, era praticamente uma fantasia. Mas, como tantas histórias de desejos insatisfeitos, a de Addie tomou um rumo inesperado quando, no dia de seu casamento, em um momento de desespero, ela fez um pacto com um deus das trevas, sem perceber o custo que isso teria.
O que mais me fascinou em “A Vida Invisível de Addie LaRue” foi a maneira como V.E. Schwab explorou o conceito de liberdade e suas consequências. Addie pediu tempo e liberdade, mas descobriu que a liberdade total veio com um preço alto: ninguém se lembra dela. As pessoas se esquecem de Addie assim que ela sai de seu campo de visão, como se ela nunca tivesse existido. Ela se torna, literalmente, invisível para o mundo. Além disso, Addie não pode deixar nenhuma marca duradoura – não pode escrever, não pode assinar seu nome, não pode criar algo que persista além do momento. É como se ela estivesse condenada a viver uma existência sem impacto, uma vida sem rastros.
Essa condição, no entanto, não impede Addie de viver. Pelo contrário, a história de Addie é uma de resistência, de sobrevivência e, de certa forma, de reinvenção. Ao longo dos 300 anos que se seguem, ela testemunha a História, passa por diferentes culturas, conhece pessoas de todos os tipos, mas permanece sempre solitária, sempre à margem. A escrita de Schwab é delicada, quase poética, e nos faz sentir como se estivéssemos ao lado de Addie, sentindo sua dor, sua solidão, mas também sua determinação e resiliência.
Há momentos na leitura em que você simplesmente deseja gritar para Addie: “Eu me lembro de você!” É como se, ao ler sua história, estivéssemos desafiando o pacto que a condenou ao esquecimento. A solidão de Addie é palpável, mas também é algo com o qual muitos de nós podemos nos identificar – o medo de ser esquecido, de não deixar uma marca no mundo, é uma ansiedade universal. E talvez seja isso que torna a história tão poderosa. Addie é um reflexo de nossos próprios medos e desejos, uma representação do anseio humano por conexão e legado.
A dinâmica muda quando Henry entra em cena, o único personagem que consegue se lembrar de Addie. A relação entre eles é um alívio para a solidão esmagadora que permeia o livro, mas ao mesmo tempo, traz à tona novos conflitos. Henry é um personagem complexo, que também carrega seu próprio fardo, e a conexão entre os dois é tanto um consolo quanto um lembrete da natureza efêmera da vida.
E então há Luc, o vilão que aceitou o pacto com Addie. Meu fascínio por vilões me fez prestar atenção especial a ele. Luc não é apenas uma figura de sombra e maldade; ele é manipulador, encantador, e, em muitos momentos, incrivelmente sedutor. A relação entre Luc e Addie é cheia de tensão e ambiguidade – ele a persegue, a tenta, mas também a respeita de uma forma distorcida. Há uma espécie de dança entre eles, onde o poder e a vulnerabilidade se misturam. Apesar de sua crueldade, não consegui evitar me sentir atraído por ele, pela complexidade de suas motivações e pela forma como ele representa tanto uma ameaça quanto um companheiro para Addie.
Mesmo com todos esses elementos, o que realmente me marcou foi a questão do legado. O que significa realmente viver? É deixar uma marca tangível no mundo, algo que dure após nossa partida? Ou é simplesmente viver plenamente, mesmo que ninguém se lembre de nós depois? Addie escolheu a liberdade, mas essa liberdade veio com a dor do esquecimento. No entanto, ao longo dos séculos, ela encontra maneiras de deixar sua marca, ainda que de forma indireta. Ela inspira artistas, provoca emoções, muda vidas de maneiras sutis. E, ao final, talvez essa seja a mensagem mais poderosa do livro: que não importa o quão invisível possamos nos sentir, sempre há algo de nós que permanece.
O que é uma pessoa, senão as marcas que ela deixa?
Não quero pertencer a ninguém, senão a mim mesma. Eu quero ser livre. Livre para viver e encontrar meu próprio caminho, para amar ou para ficar sozinha, mas pelo menos é minha escolha, e estou tão cansada de não ter escolhas, com tanto medo dos anos que passam correndo sob meus pés. Não quero morrer como vivi, o que não é vida
A vida invisível de Addie Larue
— Porque o tempo é cruel com todo mundo, sobretudo com os artistas. Porque a visão enfraquece, as vozes definham, e o talento desaparece. — Ele se aproxima e enrola uma mecha do cabelo de Addie no dedo. — Porque a felicidade é breve, mas a história é duradoura e, no fim, todo mundo quer ser lembrado.
A vida invísivel de addie larue
A vida invisível de Addie LaRue
V.E. Schwab
- Autoria:
- V.E. Schwab
- ISBN:
- 978-6555872552
- Editora:
- Galera
- Páginas:
- 504
Juliana Ferreira
Que leitura bacana e interessante, fiquei super curiosa de ler esse livro após a sua resenha
Beijos
http://www.pimentadeacucar.com
Renata Carvalho
Me pareceu ser uma história bem forte, rica e incrível, cheia de coisas que nos levam a refletir e isso é sempre muito bom, numa época em que ninguém questiona mais nada e aceita a primeira coisa que reforça a própria crença.
Amo esses livros que explodem a nossa cabeça, mas no bom sentido, haha. Fiquei curiosa com esse.
Beijos,
Livro de Memórias
Babi
Oie
Acho a capa desse livro lindo e pelo que ouço todo mundo falar é incrível, mesmo assim tem algo que me faz ter algum receio com este livro.Não sei explicar .
Amei as fotos e os quotes.
Beijos
https://mundinhoquaseperfeito.blogspot.com
Camila Faria
300 anos de solidão, UAU, não consigo nem imaginar. Que leitura bacana Clay, aposto que é um desses livros que trazem MUITA reflexão, mesmo depois que a gente termina de ler. Como sempre, sua resenha foi impecável. Um beijo :*
Larissa
Amo o tema da memória e fiquei com muita vontade de ler esse livro! (Ainda mais porque também amo Saramago e teve citação dele em meio a essa sua resenha linda.)
Betty Gaeta
Estou com este livro separado para ler e estava em dúvida se o lia ou não, depois de sua resenha, vai ser meu próximo livro!
Beijos