Me disseram que eu iria me emocionar com Hamnet, mas eu não imaginava que seria tanto. Eu finalizei esse livro com o rosto vermelho de tanto chorar! No começo, pensei que iria aguentar numa boa. Mas conforme fui avançando e as coisas foram acontecendo, a vontade foi de fechar o livro e colocar um desenho bobo na TV. E caso perguntarem se me arrependo de ler, serei bem franca: NEM UM POUCO!
William Shakespeare escreveu Hamlet quatro anos depois que seu filho Hamnet morreu, aos onze anos. E se você não leu nada do autor e nem conhece nenhuma de suas obras, não se preocupe! Você não vai se sentir perdido com a história.
O romance não é sobre Hamnet ou sua morte, é sobre luto. A dor e a forma como ele rasga e rompe vidas, transformando-as para sempre. O luto e como as pessoas lidam com a perda. O livro começa com Hamnet apressado, descendo uma escada para ser recebido em uma casa completamente vazia. Onde está todo mundo? A única pessoa que Hamnet encontra pelo caminho é seu avô que está bêbado e o repreende com raiva. E é dessa forma que descobrimos que sua irmã gêmea – Judith- está doente e Hamnet está procurando por ajuda.
A tragédia pessoal de Shakespeare
A autora nos transporta para uma Inglaterra de 1580, onde a Peste Negra tem um poder de morte sobre os ricos e os pobres. Aqui Shakespeare não é mencionado em nenhum momento. Ele aparece como pai, marido, professor de latim e até filho do luveiro. Temos um vislumbre da sua relação abusiva com seu pai autoritário e o vemos se apaixonar por Agnes. O romance intercala entre o presente – o momento em que Hamnet procura por ajuda – e o passado – antes de Shakespeare se casar.
Os capítulos que se passam no momento presente são usados para descrever toda a dor que os pais estão passando com a perda de Hamnet e como estão tentando sobreviver a essa ausência.
Tentaria de tudo, faria de tudo. Abriria as próprias veias, rasgaria o próprio corpo e daria ao filho seu sangue, seu coração, seus órgãos, se de alguma coisa adiantasse.


Não é segredo: o leitor sabe que Hamnet irá morrer, porém antes desta tragédia acontecer iremos acompanhar o seu crescimento. E é exatamente isso que fará com que a gente sofra junto com os pais. Ele era doce, amoroso, carinhoso e vivia cercado de amor. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas por eles, o amor e a determinação de Shakespeare e principalmente Agnes (no qual admirei demais) manteve aquele família unida.
A vida é arte!
Acompanhar o drama dessa família não foi cansativo, pelo contrário. Ver personagens falhos, complexos e reais fizeram com que eu me envolvesse ainda mais com a história. Todos foram bem construídos e só tive vontade de abraçar todos que moravam naquela casa. Tanto que precisei desacelerar a leitura nos capítulos em que a autora narrava a morte de Hamnet, pois essa cena acabou comigo. Consegui sentir a dor de Agnes e de todos que estavam a sua volta. Fiquei angustiada e sem chão! E ainda assim, não me arrependi de ler!
Apesar de toda a dor, adorei a forma com que a autora explorou o poder da arte! Quando a sogra de Agnes a avisou sobe a peça que levava o nome do neto, fiquei apreensiva, mas ansiosa para ver a sua reação ao assisti-la. Me emocionei demais! Shakespeare lidou com a morte de Hamnet do único jeito que sabia lidar: se expressando em arte. Sem dúvidas, entrou para a minha lista de favoritos.

Hamnet
Maggie O’Farrell
- Autoria:
- Maggie O’Farrell
- Editora:
- Intrínseca
- Páginas:
- 384
Inês
Quero muito ler esse livro!