Não sei explicar exatamente por quê, mas sempre que o dia amanhece nublado, sinto uma vontade enorme de desacelerar. É como se o tempo se esticasse só pra me lembrar de que há um certo alívio em ir devagar; em não precisar correr, responder ou produzir o tempo todo. E nesses silêncios, os livros me acompanham como quem entende.
Eu amo o outono. Mesmo sabendo que, nos últimos anos, as mudanças climáticas bagunçaram as estações, ora o calor persiste, ora o frio chega sem aviso, ainda assim, é essa transição que me acolhe. Talvez seja por causa da luz mais suave, das paletas terrosas, da sensação de recolhimento que parece vir junto com o ar mais fresco.
Mas admito que nem sempre é fácil gostar do outono sendo mãe. As viroses se espalham com facilidade, os dias chuvosos deixam a casa com cheiro de roupa molhada, chão enlameado e uma criança inquieta querendo explorar o mundo do lado de fora. Tem as roupas de frio que multiplicam na máquina de lavar, os cobertores que não secam, e uma certa nostalgia do tempo em que o silêncio da casa era mais previsível.
Ainda assim, amo a sensação de abrir a janela e sentir o frio entrando devagar. O tipo de frio que pede um casaco leve, uma meia quentinha e, se der sorte, alguns minutos com um livro no colo e café na caneca. São nesses pequenos espaços que os dias nublados e leitura se encontram e, juntos, me devolvem para dentro de mim.
Hoje, enquanto a casa silenciava ao meu redor (em um raro momento de pausa) fui buscar abrigo nas páginas de Orgulho e Preconceito. E ali, entre um parágrafo e outro, o barulhinho das folhas virando me lembrou por que dias nublados e leitura formam uma dupla tão perfeita. Um acolhe o outro, sem exigir nada em troca.


Enquanto lia, pensei em como esse livro me salva do ruído do mundo. Dos dias barulhentos por fora e confusos por dentro, em que tudo o que eu preciso é de um canto meu. São nesses momentos que os dias nublados e leitura se tornam uma forma de cuidado; um jeito delicado de lembrar que ainda existe beleza nos intervalos.
E, de tempos em tempos, eu volto para eles. Para os personagens que parecem sussurrar conselhos, para os cenários que me abraçam sem que eu precise sair do sofá. São minhas companhias preferidas quando o mundo lá fora parece grande demais. Porque dias nublados e leitura não são só sobre o clima ou as histórias, são sobre presença. Sobre ficar.
Hoje não vivi grandes acontecimentos. Só sentei perto da janela, ouvi o silêncio e deixei que o som das páginas me guiasse até mim mesma. E, sinceramente? Foi mais do que suficiente.



