Eu já sabia que não seria uma leitura fácil.
Desde as primeiras páginas, Sobre a loucura de uma mulher me deu aquele aviso silencioso: “você vai precisar estar inteira aqui”. E eu tentei. Juro que tentei.
Esse não é o tipo de livro que se atravessa com uma xícara de chá e o barulho da chuva no fundo. É denso, simbólico, por vezes desconexo. A narrativa é fragmentada, salta no tempo, muda de ritmo, some, volta. Me vi frustrada em vários momentos, me perguntando se era comigo; se eu não estava prestando atenção o bastante. E talvez não estivesse mesmo. Mas aí, do nada, Astrid Roemer me entregava uma frase tão bonita, tão certeira, que eu parava. Respirava. E continuava.

Foi minha primeira leitura da autora, e também meu primeiro mergulho literário em Suriname com toda a sua complexidade cultural, social e espiritual. E tudo isso filtrado pela voz de Noenka, uma mulher tentando existir no próprio corpo, na própria história, sem ser engolida por ela.
Noenka escreve cartas, conversa com Deus, se recusa a seguir um roteiro esperado. Ela é mãe, amante, filha, ferida, sobrevivente. Às vezes, lúcida. Às vezes, febril. E Sobre a loucura de uma mulher é isso: um livro que oscila entre o devaneio e o grito e onde nada vem explicado.

Houve trechos em que a beleza da escrita me fez quase esquecer que eu não estava entendendo tudo. Outros, em que precisei reler para tentar encontrar sentido (e nem sempre encontrei). A sensação era de estar em meio a uma dança que eu não conhecia os passos. Mas que, mesmo tropeçando, seguia. Porque tinha algo ali. Algo vivo.
Não dei cinco estrelas.
Sobre a loucura de uma mulher me provocou mais do que me acolheu. Me confundiu mais do que me abraçou. Mas, ainda assim, deixou marcas.
Talvez porque, como mulher, mãe e leitora, eu esteja aprendendo que nem toda leitura precisa ser confortável. Algumas servem justamente pra bagunçar. Pra abrir frestas. Pra nos lembrar que sentir, às vezes, é mais urgente do que compreender.
Sobre a loucura de uma mulher
Astrid Roemer
- Autoria:
- Astrid Roemer
- Editora:
- Companhia das Letras
- Páginas:
- 248