Hoje a casa está quieta.
Cora dormiu mais cedo, o céu lá fora tá com aquela luz meio dourada de fim de tarde, e eu, que deveria estar aproveitando pra riscar mais uma coisa da lista, acabei sentando com um café morno na mão… e uma vontade de escrever.
Fico pensando em como a vida mudou.
Antes dela, eu vivia acelerada. Me achava até boa nisso. Sempre com pressa, cheia de pendências, tentando resolver tudo pra no fim do dia sentir que fui produtiva. Sabe aquela sensação de ir ticando as tarefas? Era quase viciante.

Mas aí veio a maternidade. E, com ela, uma nova noção de tempo, uma que eu nunca tinha vivido antes.
Porque ninguém te prepara pra isso: pro fato de que o tempo, depois que você vira mãe, se transforma num bicho estranho. Às vezes ele voa, às vezes se arrasta. Às vezes é só um ciclo de choros, banhos interrompidos e cochilos curtos. Mas no meio desse caos silencioso, eu aprendi a desacelerar.
E olha… isso não veio de forma bonita ou inspiradora, não. Foi no tranco. Foi no susto de não conseguir mais cumprir minha lista. No incômodo de não saber o que esperar do dia seguinte. No cansaço acumulado que me obrigava a parar.
Teve um dia que eu fiquei longos minutos só observando ela brincar com uma colher. Tão simples, né? Mas ali tinha uma paz que eu não lembrava mais como era. A casa ainda estava uma bagunça, o trabalho ainda me esperava, mas eu tava ali, inteira naquele instante. E foi assim, sem grandes eventos, que aprendi a desacelerar de verdade.

Hoje percebo que não se trata de fazer tudo com calma, mas de estar calma dentro do que dá pra fazer. Tem dias em que eu continuo me atropelando, claro. Mas mesmo nesses, a maternidade me ensinou a olhar diferente. A não medir meu valor pelo tanto que entreguei, mas pelo quanto me permiti sentir. Estar. Respirar.
Tem algo de muito bonito em ver o mundo pelos olhos dela. Tudo ainda é tão novo. E acompanhar isso me obrigou a reaprender o que eu achava que sabia. Como tomar café devagar, olhar pro céu sem pressa, reparar na forma como a luz bate na parede da sala às quatro e pouco da tarde.
Aprendi a desacelerar no jeito como escuto meu corpo agora. No tempo que dou pras pausas, mesmo quando elas não cabem na agenda. Aprendi a me perdoar por não dar conta, e até a rir disso.
E se você estiver lendo até aqui, mesmo que não seja mãe, talvez entenda do que estou falando. Porque todo mundo, em algum momento, se vê diante de um limite. Um corte no ritmo. Uma fresta por onde a gente é forçada a olhar pra dentro.

Aprendi a desacelerar por causa da Cora, mas o que tenho aprendido comigo mesma nesse processo talvez seja ainda mais profundo. Hoje, esse café tá quase frio de novo. Mas eu não me importo. Porque eu tô aqui, sentada, escrevendo pra mim — e pra você que chegou até o fim.
E só por isso, o tempo já valeu.
Aprendi a desacelerar. E sigo aprendendo.