Se alguém me dissesse, antes da maternidade, que eu voltaria a ler com mais frequência depois de virar mãe, eu provavelmente daria uma risadinha irônica e seguiria com a fralda na mão. Porque, vamos combinar: a imagem clássica da mãe leitora, com o bebê dormindo tranquilamente ao lado, uma xícara de chá quente na mesa e um livro nas mãos… é só isso mesmo: uma imagem.
A real é que, nos primeiros meses, minha concentração evaporou. Mal conseguia terminar uma mensagem de texto, quem dirá uma página inteira. Eu tinha saudade de ler, porém tinha sono, um pouco de culpa, uma lista de afazeres e uma bebê que parecia ter radar de quando eu queria parar por cinco minutos.
Mas a vontade de voltar a ler ficou ali, quietinha. E foi aparecendo de novo, nos momentos menos prováveis. No tempo entre o cochilo dela e o início da louça. Nada épico. Só pequenas brechas. E foi nessas brechas que eu fui encaixando novas leituras.
Não voltei com Dostoiévski, tá? Comecei com crônicas. Depois fui para livros curtinhos, daqueles que você lê um capítulo por vez e sente que já ganhou o dia. Livros que me acolheram, me fizeram rir ou simplesmente me ajudaram a lembrar quem eu era; além de mãe.
o que eu fiz para dar certo do lado daqui:
Um dos truques que funcionou pra mim foi deixar o livro à vista. Na mesinha de cabeceira, no sofá, no banheiro (sem julgamentos). Porque, se eu precisasse lembrar de onde ele estava, eu já desistia. Se eu vejo, eu lembro. Se eu lembro, eu leio.

Comecei a levar o livro comigo. De verdade. Como quem leva um documento. Estava na bolsa, no carrinho, no braço. Mesmo que eu não conseguisse abrir, só de saber que ele estava ali, me dava uma sensação boa do tipo “olha só, ainda sou alguém que lê”.
Também aceitei que cinco minutos contam. Um parágrafo na fila do mercado, uma página antes de dormir, meia crônica no intervalo do desenho. E tudo bem se eu esquecesse a história por dias. O que importava era voltar, nem que fosse só um pouquinho.
Troquei a cobrança pela curiosidade. Parei de pensar que precisava “terminar um livro por mês” ou “acompanhar as novidades”. E passei a seguir o que me dava prazer. Li livro repetido. Li livro infantil. Li só diálogos. Teve dia que só li a sinopse e achei ótimo.
Perdi o medo de abandonar livros. Isso foi tão libertador. Se não encaixava no meu momento, fechava e partia pra outro. A leitura não é um compromisso eterno, é um encontro. E nem todo encontro precisa durar pra sempre.
Por fim, me apoiei no que já gosto: histórias que me fazem sentir. Histórias que acolhem, que abraçam sem invadir. Comecei a buscar livros leves, rápidos, com personagens que poderiam ser minhas amigas. A leitura virou companhia e, muitas vezes, uma forma de lembrar que eu também mereço esse carinho.
Luck Assunção
Que texto incrível e necessário, eu além de ter uma filha, passei por um período onde eu trabalhava demais, quando tentava ler eu literalmente dormia, ou chegava alguma demanda para fazer e comecei a adotar essas dicas de ler quando e quanto dava e assim senti que ainda havia dentro de mim aquele leitor que durante muito tempo conseguiu ler diversos livros pois tinha tempo.
Essa frase “A leitura não é um compromisso eterno, é um encontro. E nem todo encontro precisa durar pra sempre.” Fala muito sobre nossos hobbies que por vezes se tornam competição, obrigação, meta etc.
Que de fato possamos lidar com eles de uma forma mais simples.
Amei o texto…
Luma
Eu não tenho filho, mas tenho uma sobrinha que acabou de fazer 2 aninhos morando cmg… Olha……. kkkk eu vou seguir suas dicas pq aqui parece impossível.
Luly Lage
Clay, isso aqui, oh:
“A leitura não é um compromisso eterno, é um encontro. E nem todo encontro precisa durar pra sempre.”
Eu sinto super que a gente precisa, meeesmo, olhar pros nosso hobbies dessa forma, menina… Aliás, não só hobbies, mas as coisas que importam de modo geral, sabe? Sei lá, eu amei seu post, mas esse trecho eu amei mais!
Clayci Oliveira
Não é amiga? Eu vejo tanta cobrança de perfeição em cima de coisas que deveriam dar prazer e nos distrair
Laura Nolasco
Que delícia de post!
Eu entendo demais… apesar de não ser mãe ainda, minha relação com a leitura sempre foi meio caótica. Tem épocas que engulo livros no café da manhã, mas quando a vida se agita (faculdade e trabalho, por exemplo) eu passo anos sem nem abrir um livro… e acabei chegando à essa conclusão de que essa é a minha relação com a leitura e tá tudo bem também. Pra mim o kindle ajuda muito (atualmente, leio quando tô no uber indo fotografar um casamento, por exemplo)…
Também acho bonitinho pensar que sua pequena vai crescer com livros espalhados pela casa e vendo você tirar minutinhos aqui e ali pra ler. Lembro de como ler com minha mãe era incrível pra mim e como eu via ela lendo “livros grandões” e ficava ansiosa pra conseguir ler tão bem a esse ponto também.
Abraços!