Tem dias em que o mundo pesa. A lista de coisas pra fazer parece infinita, o tempo escorre pelos dedos, e eu nem lembro se tomei café ou só pensei nele. Mas, mesmo nesses dias corridos, tem momentos que me fazem sorrir. Sorrisos bobos, quase sem motivo ou com um motivo tão simples que a gente nem percebe.
A Cora, por exemplo. Eu posso estar exausta, no meio de uma tarefa, respondendo mil mensagens ou lavando a louça atrasada… e ela me olha com aquele sorriso cheio de dente (ou quase isso) e pronto: esqueço da pressa. O coração abranda, o riso vem. Ela me faz sorrir sem pedir nada. Só por ser ela.
Tem outras coisas também. Coisas que fazem parte do meu dia e que, quando acontecem, mudam tudo sem alarde. Mexer com flores, por exemplo. Criar um arranjo novo pra colocar na cozinha ou no cantinho da sala. Ver uma luz bonita entrando pela janela, dessas que pintam a parede de dourado e fazem a gente querer parar por um instante só pra olhar. E, às vezes, eu paro mesmo.

Cozinhar também me faz sorrir. Quando consigo um tempinho pra fazer uma receita só porque quero, não porque preciso. Aquele momento em que os cheiros vão tomando conta da casa e parece que tudo desacelera. E o mais curioso é que nem sempre é o resultado que importa. É o processo, o silêncio, a colher de pau mexendo devagar.
Tem o banho quente no fim do dia. A roupa macia esperando do lado de fora. Um chá que acerta o ponto. E aquela música antiga que começa a tocar do nada, tipo um abraço de memória. Às vezes eu me pego sorrindo sozinha nessas horas. Ninguém viu, ninguém precisou ver.
Gosto também de sentar no sol, mesmo que por poucos minutos. Só pra sentir o calor no rosto, fechar os olhos e fingir que o tempo parou um pouquinho pra mim. Tem dias que uma mensagem simples — um “pensei em você hoje” — me desmonta de um jeito bom. Me lembra que sou lembrada. Que tem carinho espalhado por aí, mesmo nos dias mais nublados.
E tem também a minha gata. Quando ela vem devagar, se aninha do meu lado e começa a ronronar baixinho. É quase um mantra. Um lembrete de que está tudo bem agora. O mundo pode estar lá fora acontecendo, mas aqui dentro, por um instante, tem paz. Acho que esse tipo de momento é o que fica melhor para esse conteúdo de vida que eu tento viver todos os dias: com presença, com afeto, com doçura.


Essas coisinhas pequenas são como bilhetes dobrados que a vida deixa pelo caminho. Nem sempre a gente vê na hora, mas quando encontra, sorri. E talvez sorrir sem motivo seja só um jeito do corpo dizer que, apesar de tudo, ainda existe ternura. E que a gente pode encontrá-la nos lugares mais simples — ou no ronronar de quem só quer ficar perto.