Olá! Como vocês estão? Precisei me afastar por alguns dias para planejar e pensar no futuro do blog. Admito que fiquei um pouco desanimada e com receio de voltar a blogar, mas senti tanta falta desse espacinho que não pensei duas vezes. Como foi a virada de ano de vocês? Espero que tenha sido tranquila e ao lado das pessoas que amam.
Esse ano quero trazer mais publicações sobre jogos aqui no Sai da Minha Lente. Vou continuar falando sobre livros e compartilhando dicas de leituras, porém quero abrir espaço para uma nova categoria e indicar jogos com impactos sociais. O meu objetivo não é avaliar gráficos e jogabilidade, mas apresentar enredos e questões importantes para serem discutidos. Assim como nos livros, alguns jogos se aprofundam na história de alguns personagens e incluem discussões como política, religiões, problemas sociais e comportamentais.
Escolhas em Jogo: Gris
E para abrir esse nova categoria, que se chamará “Escolhas em jogo”, selecionei o game Gris – ganhador do The Game Awards 2019 na categoria de jogos de impacto. Enquanto jogava Gris, me lembrei de uma cena do episódio Listen da série Doctor Who. Não vou entrar em detalhes sobre esse episódio, mas fui atrás de um trecho que me marcou bastante:
Me deixa lhe dizer algo sobre o medo. Seu coração bate com tanta força – eu o sinto através de suas mãos! Há tanto sangue e oxigênio bombeando pelo seu cérebro, é como combustível de um foguete. Neste momento, você poderia correr mais rápido e lutar com mais força. Você poderia saltar mais alto que nunca em toda sua vida. E você está tão alerta que quase pode abrandar o tempo. Qual é o problema do medo? O medo é um super-poder. É o seu super-poder.
Listen – Doctor Who
Nesse episódio o Doctor fala sobre o medo que vive dentro da gente e os fantasmas que nos acompanham. Gris é um jogo que quer nos ensinar como enfrentar e lidar com essas inquietações que alimentamos. E ele faz isso com uma trilha sonora maravilhosa e um gráfico em aquarela que é uma verdadeira obra de arte.
Sobre o jogo
Gris é um jogo que precisa ser sentido e por isso pode ser interpretado de diversas formas. A protagonista – que leva o nome do game – é uma jovem que perdeu a voz e lida com vários estágios do luto. Em cada estágio, enquanto combate e lida com as suas inseguranças, vamos vê-la crescer emocionalmente. Ela começa fraca e mal consegue colocar um pé na frente do outro. Entretanto, conforme vai ganhando confiança e juntando forças, Gris conquistará algumas habilidades e consequentemente trará mais cores ao seu mundo.
E por falar em cores, Gris é um dos jogos mais bonitos que eu já joguei. O gráfico é feito em aquarelas suaves e cada cena poderia ser emoldurada facilmente. Não há falas no jogo, somente instruções que vão surgindo conforme for avançando. E para ser sincera, as falas são desnecessárias, pois o objetivo é juntar as peças conforme a sua imaginação. A jogabilidade é bem simples. No inicio só é possível andar para frente e para trás com a personagem; aos poucos conseguimos habilidades para pular, nadar e até mesmo se transformar-se em pedra.
3 motivos para jogar Gris
1- Uma heroína que foge do tradicional
Gris é um jogo relativamente curto, mas carregado de detalhes e significados. Se você está esperando encontrar uma personagem rancorosa, vingativa e com super poderes, pode ser que não goste dessa experiência. Ela foge do tradicional e é fascinante em todos os sentidos. A jovem usa a sua inteligência para sobreviver em um mundo sombrio e conseguir trazer as cores de volta para o seu mundo.
E é possível que em algum momento você se identifique com a protagonista. Gris se vê, de repente. sem voz e sem cores. O seu mundo desaba e ela se sente completamente perdida. Ela precisa se recompor e seguir em frente, mas para isso acontecer será necessário explorar caminhos desconhecidos.
2- Enfrentando os nossos medos e encontrando a nossa voz
E por falar em caminhos desconhecidos, esse jogo permite várias interpretações enquanto exploramos cada cenário. No começo do jogo, a protagonista ganha a habilidade de se transformar em uma pedra para enfrentar uma tempestade que a impede de seguir em frente. Medos, inseguranças, tristeza profunda, angústia, ansiedade são alguns dos estágios que o jogo me permitiu identificar e refletir a respeito.
Na maioria dos jogos, há um senso de urgência. É comum vermos personagens correndo, fugindo e até mesmo explodindo coisas, mas em Gris o ritmo é mais lento. Entretanto, isso não é algo ruim, pelo contrário, o jogo prende a nossa atenção e nos encoraja a resolver os quebra-cabeças.
Quando o mundo de Gris desaba, ela não perde apenas a sua voz. A jovem não tem forças para seguir em frente e mal consegue ficar em pé. Por mais que não tenha diálogos na trama, a narrativa visual é profunda. No decorrer da história, Gris encontra sua voz novamente e também a sua força interior. E enquanto jogava percebi que independentemente da fase, não há como a personagem morrer; pois o objetivo é seguir em frente e não desistir.
Em uma entrevista os produtores Roger Mendoza e Adrian Cuevas deixaram claro que o objetivo era criar um jogo livre de frustrações, em que a jornada da protagonista que dá nome ao jogo é mais significativa do que derrotar inimigos ou superar obstáculos dificílimos.
3- Uma verdadeira obra de arte
Gris nasceu de um conceito que surgiu na cabeça de Conrad há um tempo atrás. A ideia de um mundo preto e branco que recupera suas cores à medida que o jogador avança. Queríamos criar uma experiência inclusiva, livre de frustrações e mortes, para que todas as pessoas possam aproveitá-la. É por isso que nos concentramos nos quebra-cabeças e elementos de plataforma. (fonte)
Roger Mendoza
Impossível jogar este jogo sem parar para admirar os cenários. Sempre que você passa de fase, desbloqueia uma nova cor e ver a aquarela surgindo na tela é fascinante. Sem falar que há várias estátuas colossais de mulheres. Cada ambiente convida o jogador a parar para refletir sobre a dor e como encontrar à paz.
Eu realmente recomendo este jogo! Os desenvolvedores abordaram de forma responsável um assunto delicado e necessário para discussão. O Jogo está disponível para PC, MAC e Nintendo Switch
TRAILER DO JOGO
TRILHA SONORA DO JOGO
5 livros que falam sobre perdas e superações
Quero aproveitar e indicar 5 livros com narrativas semelhantes ao jogo de uma forma aprofundada e sensível sobre a dor da perda e depressão.
1 – Leve-me com você – Catherine Ryan Hyde
Sinopse: August Shroeder é um professor de ciências desacreditado e um alcoólatra em recuperação. Todos os anos, seu destino nas férias de verão é o mesmo: a estrada. Em seu trailer, ele percorre quilômetros e mais quilômetros nas rodovias para visitar os belíssimos parques e reservas naturais. Seu plano era visitar o Parque Nacional Yellowstone com seu filho, Phillip, mas agora não há ninguém no banco do passageiro — apenas um punhado de cinzas guardado no porta-luvas, em uma garrafa de chá carregada de significado.
Quando o trailer quebra, August busca conserto na oficina mais próxima. Mas, além do motor home pronto para seguir viagem, ele sai de lá com dois garotos a tiracolo — seus novos companheiros nessa road trip — e a chance de repaginar uma viagem que tinha tudo para ser melancólica e permeada por lembranças doloridas. O livro fala sobre honestidade, luto, perdas, conquistas e transformações. Leia a resenha de Leve-me com você aqui no blog.
2- Mais do que Isso – Patrick Ness
Sinopse: Um garoto se afoga, desesperado e sozinho em seus momentos finais. E morre. Então ele acorda. Nu, ferido e com muita sede, mas vivo. Como pode ser? Que lugar é este, tão estranho e deserto? Enquanto se esforça para compreender a lógica de seu pior pesadelo, o garoto ousa ter esperança. Poderia isto não ser o fim? Poderia haver mais desta vida, ou quem sabe da outra vida? Leia a resenha de Mais do que isso aqui no blog.
3- Passarinha – Kathryn Erskine
Sinopse: No mundo de Caitlin, tudo é preto e branco. Qualquer coisa entre um e outro dá uma baita sensação de recreio no estômago e a obriga a fazer bicho de pelúcia. É isso que seu irmão, Devon, sempre tentou explicar às pessoas. Mas agora, depois do dia em que a vida desmoronou, seu pai, devastado, chora muito sem saber ao certo como lidar com isso. Ela quer ajudar o pai – a si mesma e todos a sua volta -, mas, sendo uma menina de dez anos de idade, autista, portadora da Síndrome de Asperger, ela não sabe como captar o sentido.
Caitlin, que não gosta de olhar para a pessoa nem que invadam seu espaço pessoal, se volta, então, para os livros e dicionários, que considera fáceis por estarem repletos de fatos, preto no branco. Após ler a definição da palavra desfecho, tem certeza de que é exatamente disso que ela e seu pai precisam. E Caitlin está determinada a consegui-lo. Seguindo o conselho do irmão, ela decide trabalhar nisso, o que a leva a descobrir que nem tudo é realmente preto e branco, afinal, o mundo é cheio de cores, confuso mas belo.
Um livro sobre compreender uns aos outros, repleto de empatia, com um desfecho comovente e encantador que levará o leitor às lágrimas e dará aos jovens um precioso vislumbre do mundo todo especial dessa menina extraordinária. Leia a resenha de Passarinha aqui no blog.
4- Um menino em um milhão – Monica Wood
Sinopse: Quinn Porter é um guitarrista de meia-idade que nunca conseguiu deslanchar na carreira. Enquanto aguardava sua grande chance na música, foi um marido e pai ausente, e jamais conseguiu estabelecer um vínculo afetivo com o filho, uma criança obcecada pelo Livro dos Recordes e algumas peculiares coleções.
Quando o menino morre inesperadamente, alguém precisa substituí-lo em sua tarefa de escoteiro: as visitas semanais à astuta Ona Vitkus, uma centenária imigrante lituana.
Quinn assume então o compromisso do filho durante os sete sábados seguintes e tenta ajudar Ona a obter o recorde de Motorista Habilitada Mais Velha. Através do convívio com a idosa, ele descobre aos poucos o filho que nunca conheceu, um menino generoso, sempre disposto a escutar e transformar a vida da sua inusitada amiga. Juntos, os dois encontrarão na amizade uma nova razão para viver. Leia a resenha de um menino em um milhão no blog.
5- O último adeus – Cynthia Hand
Sinopse: O Último Adeus é narrado em primeira pessoa por Lex, uma garota de 18 anos que começa a escrever um diário a pedido do seu terapeuta, como forma de conseguir expressar seus sentimentos retraídos. Há apenas sete semanas, Tyler, seu irmão mais novo, cometeu suicídio, e ela não consegue mais se lembrar de como é se sentir feliz.
O divórcio dos seus pais, as provas para entrar na universidade, os gastos com seu carro velho. Ter que lidar com a rotina mergulhada numa apatia profunda é um desafio diário que ela não tem como evitar. E no meio desse vazio, Lex e sua mãe começam a sentir a presença do irmão. Fantasma, loucura ou apenas a saudade falando alto? Eis uma das grandes questões desse livro apaixonante.
O Último Adeus é sobre o que vem depois da morte, quando todo mundo parece estar seguindo adiante com sua própria vida, menos você. Lex busca uma forma de lidar com seus sentimentos e tem apenas nós, leitores, como amigos e confidentes.
PS Amo Leitura
Que post mais incrível! Eu ainda não conhecia esse jogo, mas ele parece magnífico. Fiquei realmente apaixonada! Sobre os livros indicados: li apenas “mais do que isso” e “o último adeus” e são livros maravilhosos mesmo, principalmente o último. Sou louca para ler “passarinha” e espero conhecer essa obra ainda este ano.
Beijos,
Clayci
Eu chorei demais com o último adeus
Mara Santos
Oi, achei a iniciativa tão bacana. Eu sou mais de jogos de tabuleiro, mas amei conhecer o mundo de Gris. Achei sensacional a sua ligação do jogo com indicação de leitura, ainda mais quando vi Passadinha entre eles. Adoro teu blog, sei das dificuldades e espero que vc não desista dele.
Beatriz Andrade
Eu vi os seus stories falando sobre esse jogo e fiquei com a maior vontade de jogar também, é uma ´tima indicação!
Thainá Christine
Que post maravilhoso!
Uma pena que o jogo esteja em plataformas que não costumo ter contato, pois eu adorei a forma como você dissertou sobre a história e fiquei bastante instigada em conhecê-la através dos meus próprios olhos. Eu gosto muito de jogos assim, que focam em passar os sentimentos ao invés de batalhas ou lutas, tanto é que meu jogo preferido é um desses, um daqueles que dizem ser mais história do que propriamente jogo. Mas enfim, espero um dia ter a oportunidade de jogá-lo.
Clayci
Achei isso péssimo também.
Queria que mais pessoas tivessem acesso ao jogo. Pois o trabalho é lindo e traz uma discussão tão importante =/
Mas se vc usar PC acho que vale a pena usar Steam <3
Maria Luíza Lelis
Oi, Clayci! Tudo bem?
Eu não sou de jogar, então, fico completamente por fora do mundo dos games. Ainda não conhecia esse, mas lendo seu post consegui entender o motivo dele ter vencido o The Game Awards. Achei a proposta dele super interessante e, além de parecer ser muito bonito, pela sua descrição eu já adorei a heroína. Como falei, não sou de jogar. Mas esse realmente chamou minha atenção.
Ah e sobre os livros que você indicou, Leve-me com você e O último adeus estão parados na minha estante há muito tempo. Quero tentar ler agora em 2020.
Beijos!
Clayci
Fico feliz que esse jogo tenha despertado o seu interesse.
Essa é a proposta do meu projeto, apresentá-lo com outra perspectiva. Fazer com que pessoas que não curtam jogar, se interessem pelo conteúdo e deem uma chance
Alisson Gomes
Oi Clayci!!
Menina os gráficos do jogo são lindos mesmo, o trailer é bem interessante, mas eu nunca fui uma pessoa boa com video games porque eu sinceramente não tenho paciência. Dos livros que você indicou eu basicamente conheço todos eles, mas, só li Mais do Que Isso e nossa que livro forte que ele é viu? A única coisa que falo sobre o livro é que a parte da Ficção Cientifica ficou um pouco confusa, mas amei demais!!
Beijos!
Eita Já Li
Clayci
Olá!! Fico feliz que tenha gostado dos gráficos.
A proposta do meu projeto é justamente essa. Apresentar jogos para que não tem paciência para jogá-los =) apresentar a dinâmica por outra perspectiva.
E eu adorei Mais o que isso também <3 Ness arrasou nessa historia.
Kênia Cândido
Oi Clayci.
Está um pouco difícil mesmo blogar, mas a gente faz pelo amor que temos pelos nossos cantinhos literários e pelos livros. Mas não desanima não. Agora seu post foi uma surpresa, pois não conhecia este jogo. Confesso que ando muito afastada de jogos. Adorei os motivos que você apresentou para jogar Gris e as dicas literárias também. Obrigada pela dica.
Bjos
Clayci
É exatamente assim que eu me sinto hahahahah
Não consigo abandonar esse cantinho
Aninha Saraiva
Dessa lista eu só li O ÚLTIMO ADEUS, que é um dos meus favoritos da vida! Não costumo ler muitos livros assim, tenho o coração mole demais hahaha
Beijos ??
Clayci
Esse livro é incrível, né?
Chorei bastante com ele.
Dayhara Ribeiro Martins
Oi lindeza, não desanime, gosto demais dos seus posts! Fiquei feliz demais em ver O ultimo adeus ali nas suas dicas, ele foi meu corpus de pesquisa na faculdade então me deu até vontade de jogar(isso que fujo de jogos) hahaha espero que esse ano seja mais animador pra gente e traga bons resultados.
Clayci
Fiquei tão feliz com seu comentário, muito obrigada pelo apoio
Lilian de Souza Farias
Oi. Minha virada de ano foi bem tranquila e como eu planejei. Também tenho pensado sobre o futuro do blog só que mais em relação as parcerias… ainda não sei bem como será isso. Sobre o jogo indicado, é a primeira vez que vejo, não conhecia e fiquei curiosa porque achei peculiar o lance das frustrações